"As farmácias têm de saber acompanhar a transformação digital"
Pedro Caramez, formador e consultor dedicado quase exclusivamente ao LinkedIn em Portugal, comenta o impacto que a maior rede profissional do mundo pode ter no negócio das farmácias e na carreira dos profissionais que trabalham no setor. Em entrevista, o “Mr. LinkedIn” – como é chamado no meio – partilha ainda algumas dicas práticas para alcançar o sucesso na maior rede profissional do mundo.
Qual é a relevância do LinkedIn hoje em dia?
Atualmente, o LinkedIn tem cerca de 850 milhões de utilizadores. Trata-se de uma rede com 19 anos de existência que, ao longo dos anos, foi sedimentando o seu posicionamento enquanto ferramenta inevitável para todos os profissionais e empresas, embora continue a manter ainda uma manifesta relevância mais virada para os particulares. Isto acontece, possivelmente, porque muitas empresas ainda não vislumbraram o potencial de estarem presentes no LinkedIn. Não estar no LinkedIn é estar fora do enquadramento profissional, em qualquer estágio da carreira de um profissional e de uma empresa.
Uma farmácia deve estar presente no LinkedIn?
Neste momento, existem 544 farmácias portuguesas registadas, ou seja, 544 páginas empresariais no país têm o nome “farmácia”, num total de 150 mil empresas registadas em Portugal nesta plataforma. O LinkedIn é mais um eixo de comunicação para dar resposta às necessidades que a farmácia tem (como qualquer outra entidade) de comunicar a sua presença no plano digital. É mais uma peça do puzzle.
Quais as mais-valias para uma farmácia de ter uma página no LinkedIn?
As páginas no LinkedIn permitem à farmácia comunicar os seus ativos, os seus serviços e produtos. Além disso, uma página permite agregar os seus colaboradores, que ostentam a vinculação à entidade (presente ou passada). Por outro lado, é uma forma de se promoverem, revelando-se atrativas para outros profissionais do setor, inclusive com a possibilidade de poderem anunciar vagas de recrutamento.
Enquanto gestor de uma página de farmácia, o que se deve ou não fazer no LinkedIn?
Uma má prática da farmácia é desvalorizar este canal de comunicação. Mesmo admitindo que muitas vezes a farmácia possa ter alguma exiguidade de recursos, é importante que tente dedicar-lhe algum tempo. Um outro erro é criar a página no LinkedIn, mas não otimizar a sua presença. É importante zelar pela sua manutenção e atualização. Há casos em que têm um logótipo antigo ou, pior ainda, em que há simplesmente um abandono da página, sem conteúdos novos. Por exemplo, numa pesquisa feita agora encontrei a página de uma farmácia com zero conteúdos. Ao pesquisar pelo seu nome no Google, esta página de LinkedIn surge em 4.º lugar, pelo que esta farmácia está a desperdiçar um potencial de comunicação.
Portanto, quer a ausência de conteúdo, quer a ausência de estratégia são más práticas na utilização do LinkedIn. Outro aspeto negativo é a falta de seguimento das interações que possam ser feitas na página por outros utilizadores, que muitas vezes caem no esquecimento ou não são as mais adequadas. Por exemplo, a um comentário extremamente negativo, que critica o mau atendimento numa farmácia, a resposta de uma organização foi colocar um like, o que não faz sentido nenhum. Entendo que não serão muitas as entidades com equipas de comunicação digital dedicadas, mas ao estarmos presentes no digital ficamos expostos, e temos de agir com isso em consideração e com bom senso.
Nos últimos dois anos, muitas pessoas despertaram para o mundo digital, e as farmácias têm de saber acompanhar esta transformação digital. Ainda há farmácias que não sentem essa necessidade, pois acreditam que vão ter sempre clientes, mas, felizmente, essa mentalidade tem vindo a mudar. Embora muitos líderes prefiram sempre dar prioridade a outros aspetos, alguns estão mais cuidadosos e sensíveis a perceber que têm de apostar num modelo de comunicação adaptado ao contexto atual.
Isso significa que o LinkedIn é essencial?
Eu diria que o LinkedIn éa peça de um puzzle, e é importante que a empresa seja capaz de montar o seu próprio puzzle e encaixar ou não esta peça, se fizer sentido no âmbito da sua estratégia de comunicação. Algumas destas empresas ainda vivem um pouco sob a égide do modelo 1.0, ou seja, ter somente informação básica disponível. Mas, na atualidade digital, devem ir além disso, renovando conteúdos pertinentes com regularidade.
E os farmacêuticos, enquanto indivíduos, devem utilizar o LinkedIn?
Claro, enquanto embaixadores da própria farmácia onde trabalham, e não só. A sua presença nesta rede profissional pode ser importante no acesso a conhecimento e às boas práticas de outros colegas. O LinkedIn tem também a vantagem de pesquisar (e de criar) eventos em que podem participar. Se procurarem por eventos com o nome “pharma” encontram centenas, e muitos podem ter interesse para profissionais de farmácia. De facto, há um enorme benefício em estar em rede com outras pessoas, com quem partilham os mesmos problemas, desafios e motivações. Há aqui um sentido de pertença a uma comunidade maior, uma forma de criar uma proximidade com os seus pares. E, obviamente, também têm a hipótese de pesquisar oportunidades de emprego, embora o LinkedIn seja muito mais do que isso.
O que aconselha aos profissionais de farmácia para um melhor aproveitamento do LinkedIn?
Um dos clássicos erros destes profissionais é deixarem alguma informação no seu perfil e “esquecerem-se” dele. Hoje em dia, o LinkedIn não traz grandes resultados se tiver apenas isso e nada mais. Portanto, tem de estar consciente de que a rede só lhe dará aquilo que for capaz de fazer com ela. Costumo dizer que o que se faz na rede é uma réplica do que acontece em contexto normal. O mais importante é a ligação, a relação. Trata-se de noções básicas de networking, de gerir, nutrir e desenvolver a rede de contactos.
A título de exemplo, só no mês passado fiz 120 telefonemas a pessoas da minha rede, com quem já não falava há algum tempo. Do que me vale dizer que conheço a pessoa x se depois não comunico com ela? Falar com alguém só quando se precisa de um novo emprego ou de vender algo não vai resultar. Seja uma empresa ou um perfil, há que alimentar e nutrir a rede de contactos ao longo do tempo.
O LinkedIn faz 20 anos em 2023 e está em constante evolução. É importante que as farmácias e os seus profissionais estejam a par das tendências e ajam em conformidade, pois podem impactar o negócio e a sua visibilidade na rede. E isso pode fazer toda a diferença.